Quando eu era criança lembro de um filme do Pateta, um cidadão amável, educado e trabalhador que era amigo de todos ao seu redor, mas, ao entrar no carro, se transformava em um monstro.
Era outra pessoa na mesma pessoa.
Alguém aí se identificou? Eu era o “Pateta” (ainda sou, mas o “p” é minúsculo nesse caso). Entrava no carro, buzinava, abria o vidro, dirigia perto do carro da frente, acelerava. Me sentia o dono da rua.
Um dia pensei: por quê? Não faço mais estas coisas. Mas ainda xingo. Mentalmente, só dentro do meu carro e só para mim.
Cresci?
Para te dar um exemplo, tento ser gentil no trânsito e quando tem um carro querendo entrar na via, paro e dou a vez. Mas, e sempre tem o “mas”, fico automaticamente irritado com a lerdeza alheia. Eu parei a via para a criatura passar, e lá está ele, pensando em como não ganhou na Mega em uma noite enluarada.
Cresci?
Há uns 17 anos, 39 dias e 4 horas mais ou menos, tive uma discussão ríspida com alguém por telefone, era motivo de trabalho e eu tinha razão. Cheio dela e abastecido que só a arrogância da juventude proporciona, levantei a voz, lembro claramente de suar ao falar tamanha a briga. Terminou o telefonema (sim, era por telefone) e ao invés de sentir o júbilo da vitória, senti vergonha pelo show que proporcionei aqueles que não pediram para ouvir o “showzinho da razão”.
Cresci?
Levantar a voz, ah que sedução provoca no ego. Você não quer perder, mas também quer machucar, virou pessoal. Basicamente ao levantarmos a voz provamos quão infantil ainda somos.
Melhorar, se tornar uma pessoa melhor é um exercício diário. Vejo os erros que cometi no passado sendo repetidos, não mais por mim, por amigos, colegas, familiares. A nossa “razão” não é “licença para matar”. Ela basicamente vale só para você provar seus argumentos. Tudo que eu fiz antes, poderia ter feito de maneira mais educada, polida e teria provavelmente colhido melhores resultados.
Cresci? Sim. Melhorou uns 1000% falta só mais um trilhão, porém penso que se perceber como é, e se perguntar com honestidade: porque, é um passo importante e fundamental para nosso crescimento.
Não é treinamento para santo, é só treinamento para ser gente mesmo, nada de especial.
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Para quem ficou curioso e não lembra, segue o vídeo do Pateta