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Atender bem sem olhar a quem

Tenho certeza de que todos temos uma experiência de mau atendimento que guardamos na cabeça em detalhes sórdidos, algumas vezes modificado para dar uma maior emoção na história.

Agora, você já se perguntou que nós também “atendemos” alguém? Somos também nós, responsáveis por histórias que outros contam e somos os vilões dessas histórias.

De verdade, quanto custa atender bem?

Deixa contar uma história pessoal:

Precisava de umas informações sobre a companhia de abastecimento de água aqui da minha região (moro em Curitiba), tentei pelo aplicativo: nada. Liguei, fiquei alguns bons minutos no telefone e, depois de confirmar todas as informações possíveis, o veredicto: só pessoalmente.

Engole almoço.
Sai correndo.
Entra.
Pega senha.
Aguarda.
É chamado.

Fazia 30 graus em Curitiba e por algum motivo a moça estava com uma blusa daquelas de lã de carneiro e, não, não estava o ar condicionado ligado.

Explico que estava ali apenas para pegar um documento para pagar.
Para pagar!

Ela então confere os dados.
Confirma os dados e fala que não pode fazer nada.
Motivo?
Eu não trouxe o IPTU impresso.

Explico que tinha o IPTU no celular, que nem sabia que eles ainda mandavam impresso.
Não, tem que ter.

Pergunto porque ela precisaria do IPTU impresso.
Para ver os números, ela me responde.

Repito. Eu tenho essa informação, aqui, agora.
Não. Não posso.

Tudo isso recheado com uma cara de poucos amigos.
Cara de quem estava ali por obrigação.
De quem estava fazendo favor em me atender.

É procedimento esse absurdo? Não faço ideia.
Se for é mais uma das coisas estúpidas que precisa ser alterada.

A verdade, única, é que a moça que atendeu a senha N56 da mesa 10, mas que, na verdade, estava na 3, poderia ter me negado o serviço, sendo simplesmente simpática.

Tenho certeza que a moça gélida já teve o desprazer de ser mal atendida por alguém.
Talvez quisesse descontar sua frustração? Talvez seja infeliz? Talvez?

Ainda assim, não há desculpas para as más sementes que espalhamos por aí.

Atender bem é inexorável.
Atender bem é primordial.
Atender bem é humano.

Atender bem o seu pai, seu amigo, seu irmão.
Atender bem o seu cliente, o desconhecido, o inimigo.

Nunca disse que era fácil.
É preciso.
Um dia, alguém fecha o ciclo do ódio.
Tento fechar, nem sempre consigo.

Uma boa história, ao contrário.
Um dia o menino vai para o escritório com a mãe.
Ela segurava um café.
Ela esbarra em alguém, o café é derramado e atinge sua blusa.
O homem pede desculpas.
A mulher o desculpa.
Fim.

Essa mesma mulher está em casa.
O marido está com o café.
O marido esbarra na mulher.
Derruba café na mulher.
A mulher berra, grita, insulta.
Fim.

O menino pergunta:
– Mas pai. Por que com o senhor ela gritou e com o moço do escritório,não?
– Por que ela não é casada com ele. Por que ela não tem liberdade com ele. Por que ela sabe que estou pronto para ouvir o seu desabafo.

Todos precisamos desabafar.
Talvez, e só talvez, precisemos encontrar o ouvinte certo.

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