Toda tragédia nos faz pensar.
Toda perda nos faz refletir.
Por quê? Como? O que eu poderia ter feito?
O lance da palavra “último” é que ela não é previsível.
Ela chega sorrateira.
Não se anuncia.
Não bate na porta.
Ela simplesmente chega.
O último abraço.
A última conversa.
A última vez que fomos felizes.
A última vez que vemos um sorriso.
A última vez que dissemos adeus.
Não sabemos.
Até mesmo em doenças sérias pré-anunciadas.
Até mesmo quando teoricamente sabemos que o “último” está ali, não queremos acreditar e acrescentamos um “talvez”.
Talvez.
Uma palavra tanto de esperança quanto de medo.
O talvez nos coloca em um estado de pânico constante.
Tudo pode ser talvez.
Tudo por ser o último.
Hoje, pouco antes de escrever este texto, fui apresentado ao livro “A Velhinha que Dava Nome as Coisas”.
Uma senhora que vivia em um mundo sem amigos, pois todos já haviam partido e, como ela não queria mais sofrer com a solidão daqueles que se vão, começou a dar nomes a objetos inanimados que perdurariam a ela. Um dia, um cachorro chega a sua casa. O cachorro, era a única coisa sem nome em sua vida.
O final não vou contar, mas a lição aqui não é dar nome as coisas, é entender que nunca saberemos de verdade quais coisas ou pessoas perduraram enquanto nós, não.
Ela, a palavra sorrateira, “última”, nos acompanha par e passo.
Tudo pode ser a “última”.
A questão é:
Como será essa última?
Virá sozinha e pronto.
OU
Virá acompanhada da palavra “arrependimento”?
Nem tudo é certo.
Nem tudo é errado.
Mas tudo por ser feito e dito pela última vez.