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Pessoas que magoam outras pessoas

Essa semana estava ouvindo um podcast (Crime e Castigo) em que falava sobre uma tal de Justiça Reparativa. A tese, já implantada em algumas varas do Brasil, diz que a questão não é encarcerar, mas sim, reparar, de modo individualizado e através do diálogo.

Sinceramente, no alto da minha ignorância, acho que não funciona. Acho que causa mais danos na vítima que se vê pressionada a viver de novo e de novo o fato da qual foi vítima para tentar chegar a um “acordo” sobre qual seria a “punição” adequada.

Há, por exemplo, a história de uma menina de 14 anos estuprada pelo primo. Fizeram algumas reuniões, na primeira delas a menina queria que o primo fosse preso, alguns meses depois, após pressão da família, do pastor e da intermediação ela decidiu que ele deveria pagar a festa de 15 anos dela e pronto. Ela, a vítima, no final, disse que não queria que os filhos do monstro (aqui é uma licença minha, essa palavra não aparece no podcast) crescessem sem pai.

Claro.

Talvez eu tenha começado esse texto de maneira muito acintosa frente ao título. Mas a pergunta segue: e quando alguém te magoa? É possível perdoar?

OK, esqueçamos os crimes.

Falemos da nossa vida ordinária.
Você convive com alguém, um colega de trabalho.
Tua mesa é do lado da dele.
De repente, as ideias não convergem.
Você fala A, ele B.

Ele leva pro pessoal e começa a proferir xingamentos.
Você devolve.

Acabou?
Calor de momento?

Você esquece e segue em frente?
Toma o dito, por não dito e boa?

Difícil, muito difícil.
As palavras lançadas não voltam.
Assim como pregos em uma cerca, podem até ser retiradas, mas a marca permanece.

Dizem que perdoar é divino.
Somos divinos?
Somos humanos?
O humano é divino?

As pessoas que magoam outras pessoas existem.
Elas são, normalmente, aquelas que menos esperamos.
Porque se fosse assim, provavelmente não teríamos esse papo.